O trauma é um facto da vida, mas não precisa de ser uma sentença de vida, como diz Peter A. Levine. O trauma não é o evento ou situação que aconteceu a alguém, mas o impacto que esse evento ou situação teve nesse indivíduo. O trauma reflete-se numa desregulação e desorganização do sistema nervoso e dos sistemas que a ele estão também conectados, e que se vai observar através de sintomas e/ou padrões sejam eles físicos, mentais ou emocionais. De forma simples, pode-se pensar em trauma ou num evento gerador de trauma como algo que no momento do sucedido, aconteceu: cedo demais, rápido demais ou de forma demasiado intensa.
Para um leigo nesta área, pode ser mais fácil identificar traumas com um T (maiúsculo), como guerra, violência doméstica, ataques terroristas, desastres naturais, catástrofes, pandemias, mas também há outros que podem ser traumáticos e um pouco menos óbvios, como negligência/menosprezo, excesso de proteção, abandono, instabilidade, acidentes sejam eles de carro ou não, quedas, doenças, cirurgias, ser vítima ou testemunha de violência (seja ela física, verbal ou emocional), contextos de medo e conflito contínuo (que poderão ser em casa e não necessariamente uma guerra exterior), desafios na gravidez e no parto (não só para a mãe, mas também para o bebé), quase afogamento, ataque de um animal, entre muitos outros.
Deixo claro que não necessariamente a pessoa sairá da situação traumatizada, e a conclusão de que saiu ou não, está muito relacionada com os possíveis sintomas que desenvolveu, tenham sido estes físicos, mentais ou emocionais.
No artigo da MAGnews de fevereiro, falei sobre a importância da prevenção. Prevenir sintomas possíveis de trauma, como dores de cabeça, enxaquecas, respostas asmáticas, síndromes, desregulação nos padrões de sono, dor crónica, ansiedade, ataques de ansiedade e pânico, exaustão, baixa energia, má digestão, funcionamento inadequado do sistema imunológico, depressão, entre outros é muito importante.
Como diz o criador da Experiência Somática, Peter A. Levine, é mais fácil prevenir trauma do que curá-lo. Isto é lógico, como é lógico que é mais fácil ter um bom antivírus nos nossos dispositivos ao invés de lidar com um ciberataque e com as consequências do mesmo.
Prevenir é construirmos e consolidarmos a nossa resiliência e é, também, libertarmos os altos níveis de energia que já estão no nosso corpo, decorrentes do impacto que a nossa história teve em nós. Níveis de energia estes que impactam, não só a nossa resiliência para lidar com novas ameaças e/ou desafios no nosso dia-a-dia, como também a nossa capacidade em vivermos a vida Vivos, com bem-estar e com energia, em vez de dormentes ou híper-responsivos (numa pilha de nervos, digamos assim).
Quero deixar, por fim, alguma consciência em relação a alguns dos que poderão ser os sintomas de trauma que parecem não ser “tão físicos”: fobias, comportamentos evitativos (evitar fazer algo, pois tivemos uma situação no passado que foi traumática) medo intenso constante, estado de alerta constante, sensação de impotência (impossibilidade) e de falta de controlo, menor capacidade de memorização, dificuldades de concentração, amnésia e esquecimento, impossibilidade de estar presente, falta de esperança em relação a um futuro diferente, flashbacks, desconexão contigo e com os outros, respostas emocionais exageradas, habilidade reduzida de lidar com stress e a lista continua.
E termino partilhando que não há melhor mestre do que aquele que nos ajuda a encontrar o mestre em nós mesmos. Não há melhor mestre do que aquele que nos empodera, em vez de manter todo o poder concentrado em si. E é isso que a Experiência Somática permite a quem decide iniciar terapia através deste método. Para além de levar à renegociação e transformação de trauma e/ou stress, ainda permite a quem a faz, conectar-se profundamente à sua sabedoria. Permite o re(descobrir) do seu poder pessoal e da sensação de empoderamento em si. Não podemos falar de empoderamento sem falar em responsabilidade. Fazer terapia com este método terapêutico é ter um papel ativo na sua transformação.
A nossa história, os “nossos” traumas não são mesmo uma sentença de vida. É possível quebrar os padrões que reinaram a nossa vida até hoje, é possível viver com bem-estar, é possível viver sem os sintomas ou diminuí-los significativamente. E se este for o seu momento, convido-a(o) a dar um novo rumo à sua vida, a escrever uma nova história. E previna, ao invés de remediar.
O paradoxo do trauma é que ele tem, simultaneamente, o poder de destruir e o poder de transformar e ressuscitar. ― Peter A. Levine, Uma voz sem palavras
Se quiser saber mais sobre este método terapêutico, contacte-me. Espero por si na Clínica Magna.
Susana Rosa
Especialista em Experiência Somática
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